O outro lado da energia limpa

O outro lado da energia limpa

A transição para fontes de energia mais limpas é uma necessidade urgente e inegociável. A substituição dos veículos a combustão por elétricos e o uso crescente da energia solar e eólica são marcos importantes nesse caminho. No entanto, esse avanço precisa vir acompanhado de responsabilidade ambiental em toda a cadeia produtiva. Um ponto que ainda recebe pouca atenção é o destino das baterias de íons de lítio, que sustentam boa parte da promessa de "zero emissões". O problema é que, ao final de sua vida útil, essas baterias podem representar uma ameaça ambiental considerável, caso não sejam descartadas corretamente.

Estudos recentes revelam que essas baterias contêm metais pesados tóxicos e são altamente reativas, com riscos reais de explosão quando descartadas de forma inadequada. Menos de 5% são recicladas corretamente no mundo, e a extração do lítio em si já é uma atividade extremamente agressiva ao meio ambiente. No Brasil, a situação é ainda mais crítica: faltam infraestrutura adequada, políticas públicas eficazes e consciência coletiva sobre o problema. Com a previsão de aumento expressivo no volume desses resíduos entre 2027 e 2030, é urgente discutir soluções concretas para evitar um desastre silencioso.

É preciso agir em várias frentes: prolongar a vida útil das baterias com manutenção adequada, investir em alternativas tecnológicas mais sustentáveis, como as baterias de sódio, e apoiar políticas de logística reversa. Também é estratégico, enquanto o país não desenvolve sua própria estrutura, firmar parcerias com recicladoras internacionais. Mas talvez o mais importante seja educar o consumidor e as empresas sobre a importância do descarte responsável. Sem essa consciência, os avanços em energia limpa podem se tornar uma armadilha ambiental no futuro.

Minha visão, como empresário do setor, é clara: a transição energética é inevitável, mas ela precisa vir acompanhada de responsabilidade. Não basta abraçar a sustentabilidade no discurso, é preciso encarar também os desafios que ela traz. Na nossa empresa, já buscamos alternativas como baterias de longa duração e estudamos o uso de hidrogênio verde como fonte complementar. Sustentabilidade não se resume ao agora. É sobre garantir que o amanhã receba o legado que prometemos construir hoje.